quinta-feira, dezembro 04, 2008

Motel

Mirtes não se agüentou e contou para a Lurdes:

- Viram teu marido entrando num motel.

A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto,durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.

- Quando? Onde? Com quem?

- Ontem. No Discretíssimu’s.

- Com quem? Com quem?

- Isso eu não sei.

- Mas como ? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?

- Não sei, Lu.

- Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.

Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo e contou por quê.

- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você!

- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. - Discretíssimu’s! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.

- Pois então?

- Pois então, que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.

- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!

- Mas elas não sabem disso!

- Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?

- Vou!

- Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio:

- Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico.

- O que ele queria?

- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.

- O quê?

- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu’s ontem, com um homem.

- O homem era você!

- Eu sei, mas eu não fui identificado.

- Você não disse que era você?

- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?

- E então?

- Desculpe, Lurdes, mas…

- Mas o quê???

- Vou ter que te dar uma surra…


Luiz Fernando Veríssimo

quarta-feira, dezembro 03, 2008

O que é um peido para quem está todo cagado?

A expressão do título é conhecida de todos, mas o texto que a
originou é menos. É uma obra de Luis Fernando Veríssimo sobre a obra veríssima que ele fez numa viagem para Miami.

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Aeroporto Santos Dumont , 15:30..

Senti um pequeno mal-estar causado por uma cólica intestinal, mas nada que uma urinada ou uma barrigada não aliviasse.
Mas,atrasado para chegar ao ônibus que me levaria para o Galeão, de onde partiria o vôo para Miami, resolvi segurar as pontas.Afinal de contas são só uns 15 minutos de busão.'Chegando lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta, tranqüilo, o avião só sairía às 16:30'.

Entrando no ônibus, sem sanitários. Senti a primeira contração e tomei consciência de que minha gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do aeroporto.

Virei para o meu amigo que me acompanhava e, sutil falei:

'Cara, mal posso esperar para chegar na merda do aeroporto porque preciso largar um barro.'

'Nesse momento, senti um urubu beliscando minha cueca, mas botei a força de vontade para trabalhar e segurei a onda.'

O ônibus nem tinha começado a andar quando, para meu desespero, uma voz disse pelo alto falante: 'Senhoras e senhores, nossa viagem entre os dois aeroportos levará em torno de 1hora, devido a obras na pista.

'Aí o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer custo'. Fiz um esforço hercúleo para segurar o trem merda que estava para chegar na estação ânus a qualquer momento.
Suava em bicas. Meu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar um sarro.

O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais, indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado. Tentava me distrair vendo TV, mas só conseguia pensar em um banheiro, não com uma privada , mas com um vaso sanitário tão branco e tão limpo que alguém poderia botar seu almoço nele. E o papel higiênico então: branco e macio, com textura e perfume e, ops, senti um volume almofadado entre meu traseiro e o assento do ônibus e percebi, consternado, que havia cagado. Um cocô sólido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor.

Daqueles que dá vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los a apreciar na privada.

Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal.

Mas sem dúvida, a situação tava tensa. Olhei para o meu amigo, procurando um pouco de piedade, e confessei sério:

'Cara, caguei!'

Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois, aconselhou-me a relaxar, pois agora estava tudo sob controle.

'Que se dane, me limpo no aeroporto', pensei.

'Pior que isso não fico'.

Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte.

Arregalei os olhos, segurei-me na cadeira mas não pude evitar, e sem muita cerimônia ou anunciação, veio a segunda leva de merda. Desta vez, como uma pasta morna. Foi merda para tudo que é lado, borrando, esquentando e melando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas, panturrilha, calças, meias e pés.

E mais uma cólica anunciando mais merda, agora liquida, das que queimam o fiofó do freguês ao sair rumo a liberdade. E depois um peido tipo bufa, que eu nem tentei segurar. Afinal de contas, o que era um peidinho para quem já estava todo cagado...

Já o peido seguinte, foi do tipo que pesa. E me caguei pela quarta vez. Lembrei de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar modess na cueca, mas colocou as linhas adesivas viradas para cima e quando foi tirá-lo levou metade dos pêlos do rabo junto. Mas era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha menstruado tanta merda que nem uma bomba de cisterna poderia me ajudar a limpar a sujeirada.

Finalmente cheguei ao aeroporto e saindo apressado com passos curtinhos, supliquei ao meu amigo que apanhasse minha mala no bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que eu pudesse trocar de roupas. Corri ao banheiro e entrando de boxe em boxe, constatei falta de papel higiênico em todos os cinco.

Olhei para cima e blasfemei: 'Agora chega, né?'

Entrei no último, sem papel mesmo, e tirei a roupa toda para analisar minha situação (que concluí como sendo o fundo do poço) e esperar pela minha salvação, com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela uma lufada de dignidade no meu dia.

Meu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o 'check-in' e ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do boxe o cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto de minha parte. 'Ele tinha despachado a mala com roupas'.

Na mala de mão só tinha um pulôver de gola 'V'.

A temperatura em Miami era de aproximadamente 35 graus.

Desesperado comecei a analisar quais de minhas roupas seriam, de algum modo, aproveitáveis. Minha cueca, joguei no lixo. A camisa era história.

As calças estavam deploráveis e assim como minhas meias, mudaram de cor tingidas pela merda . Meus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10.
Teria que improvisar. A invenção é mãe da necessidade, então transformei uma simples privada em uma magnífica máquina de lavar. Virei a calça do lado avesso, segurei-a pela barra, e mergulhei a parte atingida na água. Comecei a dar descarga até que o grosso da merda se desprendeu. Estava pronto para embarcar.

Saí do banheiro e atravessei o aeroporto em direção ao portão de embarque trajando sapatos sem meias, as calças do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola 'V', sem camisa. Mas caminhava com a dignidade de um lorde.

Embarquei no avião, onde todos os passageiros estavam esperando o 'RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO' e atravessei todo o corredor até o meu assento, ao lado do meu amigo que sorria.

A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de algo.

Eu cheguei a pensar em pedir 120 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa transbordante e uma gilete para cortar os pulsos, mas decidi não pedir:

'Nada, obrigado.'

Eu só queria esquecer este dia de merda . Um dia de merda...


Luis Fernando Veríssimo* (verídico).

terça-feira, dezembro 02, 2008

A Saga do Cotoco

Episódio I - O Mar

Cotoco era um menino muito, muito, mas muito triste, pois não tinha os dois braços e as duas pernas...
Os amigos sempre tentavam levá-lo pra passear e se divertir.
Um dia o pessoal resolveu ir à praia. - Já sei! Vamos levar o Cotoco - disse alguém.
É isso! Vamos, Cotoco, a gente vai pra praia e vamos te levar com a gente.
- Não, de jeito nenhum! Vocês não vão se divertir se me levarem....
- O que é isso, Cotoco! A gente reveza e cuida de você.
De tanto insistirem o Cotoco resolveu ir, e chegando lá os amigos o colocaram bem na beirada da água, no rasinho e lá ele ficou se divertindo. Mas o pessoal se distraiu e ele foi ficando por lá...
De repente a maré começou a subir, subir e enquanto as ondas iam e vinham ele ia afundando, afundando.
Cotoco então começou a se desesperar:
Socorro !!!!!!!!!!!!
Socorro!!!!!!!!!! - gritava o Cotoco.
Foi aí que um cara, que já tinha tomado todas, o avistou de longe e correu para o resgate.
Heróico, o bêbado pegou Cotoco nos braços e começou a nadar vigorosamente.
Cotoco pensou: 'Ufa! Agora estou salvo!
Porém o bêbado estava indo pro lado errado e quando finalmente o pé de cana estava com água na altura do peito, lançou Cotoco violentamente para
o fundo da água e gritou:
Vai, tartaruguinha... vai...


Episódio II - O Nadador

Depois do quase fatídico e trágico acontecimento na praia, no qual um banhista bêbado pensou que ele fosse uma pobre tartaruguinha e o lançou bem longe em alto mar...
Mas foi então que aconteceu um milagre:
Cotoco começou a nadar com as orelhas!
Cotoco virou uma celebridade. Virou nadador profissional .
Apareceu no Gugu, deu entrevista no Faustão, ganhou destaque no Show do Esporte e foi chamado para ir aos Jogos Para-Olímpicos.
Chegou o grande dia!
Uma equipe contratada começa a prepará-lo e outra, especialmente treinada, joga Cotoco na piscina, mas para espanto geral, o pobre Cotoco fica parado no fundo da piscina, obviamente sem se debater, e é retirado às pressas para a superfície.
Ainda assustado com o grupo de curiosos que se forma à sua volta, Cotoco
vai recuperando o fôlego. Todos esperam uma explicação para tamanho
fracasso até que Cotoco consegue finalmente dizer:
'Quem foi o filho da puta que me colocou essa touca?'


Episódio III - O Circo

Depois da quase trágica aventura no mar e da sua curta carreira como
nadador, o coitado do pobre cotoco resolveu fazer um programa que
'aparentemente' não o colocaria em perigo.
Eis que ele reuniu seus fiéis amigos e foram em um circo...
Decorria o número do domador de leões, quando o leão escapou da jaula e foi para cima do público.
As pessoas começaram a correr de um lado para o outro, e os amigos do pobre cotoco, é claro, deram no pé. Cotoco se debatia nas arquibancadas e se esforçava para sair dali.
Alguns, ao verem o pobre deficiente, gritavam para que alguém o acudisse:
Olha o aleijadinho! Olha o aleijadinho!
E Cotoco, puto, gritou:
'Porra! Vão tomar no cu!!
Deixa o leão escolher sozinho!!!'


Episódio IV - O Casamento

Certa vez, uma viúva rica e solitária decidiu que precisava de um outro homem em sua vida, então colocou um anúncio no qual podia-se ler:
'Viúva rica procura por homem para compartilhar vida e fortuna.'
Requisitos necessários:
1 - Não me bater...
2 - Não fugir de mim...
3 - Ser excelente na cama...
Por muitos e muitos meses seu telefone tocou incessantemente, sua campainha não parava um segundo, ela recebeu toneladas de cartas, mas nenhum dos pretendentes se enquadrava nas qualificações.
Porém, um dia,
acampainha tocou novamente.
Ela abriu a porta e quem estava lá?
O Cotoco sem braços nem pernas deitado no tapete da porta.
Perplexa, ela perguntou:
Quem é você? E o que você quer?
Olá! - ele disse.
Sua busca terminou, pois sou o homem dos seus sonhos. Eu não tenho braços, logo não posso te bater.Não tenho pernas, portanto não
posso fugir de você.
Bom - ela retrucou o que o faz pensar que é tão bom na cama?
Cotoco respondeu: - Eu toquei a campainha, não toquei?

 
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